Introdução
O
presente trabalho é intitulado: Desenvolvimento
da linguagem: Semântica e Cinética na Linguagem Infantil. O processo de
aquisição da linguagem tem sido estudado por inúmeras perspectivas, tamanho
interesse que desperta. A aquisição da linguagem não pode ser entendida de
forma isolada no desenvolvimento infantil. Ela marca uma série de mudanças na
pequena criança, no que se refere ao surgimento do simbolismo e a maneira de
relacionar-se com o mundo. A capacidade de simbolizar indica uma nova maneira
de apropriar-se da realidade. A incontável quantidade de estudos na área sugere
a participação dos processos cognitivos no desenvolvimento da linguagem. Bloom,
descreve que a criança, a partir do primeiro ano de idade, terá que aprender
3750 palavras novas num ano, o que corresponde a 10 palavras por dia até ao
final da faculdade, ou a 1 palavra em cada 90 minutos. No entanto, pesquisas
revelam que, enquanto a criança é capaz de produzir dez palavras (aos 13 meses
de idade), ela consegue entender cerca de 110 palavras em média.
No
decorrer do seu desenvolvimento semântico, a criança vai adquirir, além de
novas palavras e seus respectivos significados, a ligação de ambos, isto é, o
crescimento lexical envolve não só a aquisição de novas palavras, mas também o
estabelecimento de redes de ligação entre elas. A nomeação de objectos requer o
domínio dessas ligações, sendo que os erros apresentados pelas crianças reflectem
suas estratégias usadas quando o atributo lexical coreto é desconhecido.
Objectivos
Estudo
tem o objectivo de revisar sistematicamente na literatura as relações entre
desenvolvimento da linguagem, comportamento social e ambientes familiar e
escolar em crianças de 4 a 6 anos de idade.
Objectivo Geral:
·
Analisar
as variações semânticas do enunciado de crianças em processo de desenvolvimento
da linguagem.
Objectivos Específicos:
·
Identificar
a semântico e cinética na linguagem infantil;
·
Descrever
as possíveis estratégias desenvolvimento semântico da criança pré-escolar;
·
Propor
medidas de avaliação da compreensão nos primeiros anos de vida.
Desenvolvimento da linguagem
Desenvolvimento Semântica e Cinética na Linguagem
Infantil
Ao
analisarmos o aspecto semântico da linguagem, estamos analisando se a criança
domina o significado das palavras e as combinações de palavras. Para tanto,
Acosta et al (2003, p. 90) sugere que o desenvolvimento semântico deva ser
analisado a partir dos dois processos básicos da linguagem: a compreensão e a
produção, normalmente diferenciados como vocabulário expressivo e compreensivo.
Em relação à compreensão, observa-se o reconhecimento de palavras, locuções e
frases que a criança tem.
A
avaliação da compreensão, nos primeiros anos de vida, é realizada por meio de actividades
motoras da criança. Quanto à produção “o conteúdo da linguagem é expresso
mediante elementos formais: selecção de palavras adequadas para referir-se a
pessoas, animais, objectos e acções, entonação pertinente e organização
adequada dos elementos na frase para expressar ideias, conceitos, sentimentos,
sensações, etc.” Deve ser avaliada por intermédio das produções linguísticas da
criança, com isto pode-se verificar a complexidade semântica que a criança
apresenta e se está compatível com o desenvolvimento normal.
Befi-Lopes
(2004, p. 41-42) salienta que “Dois princípios são básicos para o estudo do
vocabulário infantil – se o significado das palavras utilizadas pelas crianças
é o mesmo daquele que lhe é atribuído pelo adulto e se ele se altera de acordo
com o crescimento infantil.”
Desenvolvimento morfossintático
Seria
o que tradicionalmente se denomina gramática, referindo-se aos conceitos de
morfologia (trata das formas das palavras) e da sintaxe (estuda as funções).
Para Befi-Lopes (2004, p. 992), ao avaliar-se uma criança com suspeita de DEL é
importante observar “a forma como ela estrutura frases, a extensão de suas
produções, a utilização quantitativa e qualitativa de substantivos, verbos e adjectivos,
se fazem uso adequado de pronomes, conjunções, preposições, etc.” Segundo a
autora, também é importante observar o que a criança compreende, mesmo quando
ela não produza.
Os
testes não padronizados são os mais empregados por meio da colecta de fala
espontânea em que pode-se observar os tipos de construções sintácticas
utilizadas correctamente, complexidade dos sintagmas nominais e verbais, as
orações que contêm erros ou omissões sintácticas, a variedade de estruturas
utilizadas, a extensão média das produções, a estrutura interna das orações
emitidas, as diferentes classes de formas de palavras utilizadas e como são
tratadas.
A
produção induzida é um procedimento habitualmente utilizado. Acosta et al
(2003) sugere que para facilitar a produção verbal pode-se usar algumas
estratégias: interpretação ou descrição de imagens que representem acções,
completar frases, descrição de objectos ou figuras de objectos. A seguir,
modelo de desenho temático proposto por Yavas, Hernandorena e Lamprecht (1991)
para avaliação fonológica.
A
avaliação dos aspectos linguísticos da criança deve ser um processo minucioso,
devemos ter em mente que quanto mais detalhes conseguimos observar, avaliar –
melhor será o planeamento terapêutico que vamos elaborar. Uma avaliação
adequada não necessariamente necessita de protocolos, testes ou materiais
sofisticados, mas sim, saber o que e como avaliar. Se a avaliação puder ser
gravada, muito melhor, pois teremos material para comparações futuras e
observar o progresso ou não da terapia.
Desenvolvimento semântico da criança pré-escolar
De
acordo com Hage e Pereira (2006), os estudos sobre o desenvolvimento semântico
têm por objectivo entender como se dá a aquisição do significado das palavras
pelas crianças. Para tanto, interessa saber como ocorre o aumento do
vocabulário infantil, com que velocidade e, principalmente, quais são os fenómenos
que caracterizam o uso das palavras durante o período de desenvolvimento lexical
nos anos pré-escolares.
Para
Vygotsky (1998), os contactos iniciais do bebé com o mundo acontecem em casa,
os pais são os primeiros agentes da ‘Rede de Significações’, ou seja, eles
apresentam o quadro necessário que contempla o processo de construção do
sentido em uma dada situação interactiva e os processos de desenvolvimento.
Isso demonstra que o aprendizado das crianças começa muito antes de elas frequentarem
a escola. Dessa forma, qualquer situação de aprendizado com a qual a criança se
defronta no ensino formal tem sempre uma história prévia. Pode-se dizer, então,
que aprendizado e desenvolvimento estão inter-relacionados desde o primeiro dia
de vida da criança.
Deve-se,
porém, ressaltar que para Vygotsky (1998) os processos de desenvolvimento não
coincidem com os processos de aprendizado, embora estejam inter-relacionados: O
processo de desenvolvimento progride de forma mais lenta e atrás do processo de
aprendizado; desta sequenciação resultam, então, as zonas de desenvolvimento proximal:
distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar
através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento
potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um
adulto ou em colaboração com companheiros capazes.
Borges
e Salomão (2003) realçam que as relações da criança com os adultos, então, são
fundamentais para o desenvolvimento das habilidades linguísticas, visto
constituir-se como um sistema dinâmico, através do qual ambos contribuem com
suas experiências e conhecimentos para o curso da interacção, estabelecendo uma
relação recíproca e bidirecional. Mais especificamente, é por meio das trocas
entre o sujeito e o meio que a inteligência se estrutura, atingindo níveis cada
vez mais evoluídos de organização. Para tanto, o papel do adulto é ‘apresentar’
à criança as novas palavras, dando a ela informações sobre como um termo em
particular, desconhecido, distingue-se de outros termos conhecidos no mesmo
campo semântico.
Para
Vygotsky (1996), o desenvolvimento semântico do significado da palavra na criança
envolve tanto a referência da palavra ao objecto como a separação de suas correspondentes
características, ou seja, a decodificação dos traços dados e a inclusão do objecto
num determinado sistema de categorias não permanecem imutáveis, mas mudam à medida
que a criança se desenvolve. Essa mudança na estrutura semântica da palavra acontece
de forma diferente no decorrer do desenvolvimento do indivíduo.
Para
Luria (1986), a criança pequena, o papel principal é desempenhado pelo afito, a
sensação de algo agradável. Para a criança de idade pré-escolar ou para o jovem
escolar, o papel principal é desempenhado pela imagem imediata, sua memória,
que reproduz uma situação determinada. Para o estudioso economista, o papel
principal é desempenhado pelos enlaces lógicos presentes na palavra.
De
acordo com Jakubovicz (1997) e Law (2001), referem que o início do
desenvolvimento semântico da criança é marcado pelas suas primeiras palavras,
que são para os pais um motivo de comemoração, pois esse é o momento em que ela
se insere oficialmente no mundo comunicativo dos adultos. Isso acontece por
volta do oitavo mês de vida quando a formação de um vocabulário elementar
começa e vai se construindo dia-a-dia até mais ou menos os dois anos de idade.
Nesta etapa inicial ela usa a linguagem de acordo com as suas necessidades e
desejos, contentamentos e descontentamentos. Mais tarde, a criança com três e
quatro anos modificará a sua forma de se comunicar. A linguagem, então, deixará
de ser unilateral, e haverá daí por diante trocas de informações com o
interlocutor. A utilização das regras morfossintáticas irá aperfeiçoar-se e
cada vez mais serão usadas como os adultos. A aquisição do vocabulário crescerá
vertiginosamente, indo de cinco a dez palavras iniciais, com doze meses, a
duzentas palavras com dois anos e a mil e quinhentas palavras com cinco anos de
idade.
No
caso das crianças, essas escolhas são baseadas nas ofertas de palavras
apresentadas pelos adultos, ou seja, elas utilizam as informações passadas por
aqueles que estão a sua volta para construírem suas orientações pragmáticas
inerentes ao uso das palavras. Para Clark (2002), a aquisição lexical precoce
fica, portanto, limitada menos por restrições inatas relativas à suposição
sobre significados das crianças do que pela informação que os adultos oferecem
sobre o significado das palavras e as relações de significado.
Aspectos avaliados no desenvolvimento semântico
A
princípio, é possível subdividir esse tópico de diversas formas, dependendo de
como o indivíduo se relaciona com o mundo extralinguístico, dos objectos, ideias
e experiências.
Porém,
pode-se abordar o desenvolvimento semântico a partir da análise de dois
processos básicos da linguagem: a compreensão e a produção, basicamente
descritos como vocabulário compreensivo e expressivo, respectivamente. Essa
divisão é bem útil quando o estudo envolve crianças desde o nascimento até os
cinco ou seis anos.
Para
Costa (2003), dentre as várias maneiras de investigar o desenvolvimento linguístico,
as mais comuns são através de observação da fala da criança, entrevista com os
pais e testes de nomeação de figuras, além da interacção directa com a criança.
Como instrumentos para tal, utiliza-se análise de conversas entre adultos e
crianças, identificação de desenhos ou correspondentes concretos, reconto de
histórias infantis, identificação de personagens, narrativas a partir de
desenhos.
Compreensão de histórias por pré-escolares
A compreensão é considerada por Smith (1989)
como o factor que relaciona os aspectos relevantes do mundo à volta, às
intenções, aos conhecimentos e às expectativas que já se tem na mente. O
aprendizado, por sua vez, é uma modificação do que já se sabe, uma consequência
das interacções com o mundo ao redor, sendo mais um resultado da compreensão do
que sua causa.
A compreensão envolve relacionar as
informações explicitas, contidas no texto (discurso), e as que precisam ser
preditas com base no texto, denominadas inferências. Essas dependem da ligação
que o leitor (ouvinte) faz da nova informação, vinda do texto, com o seu conhecimento
prévio.
A
conexão e a integração do conhecimento prévio e da nova informação é a base da compreensão;
nós conseguimos compreender algo somente se podemos conectar e integrar o nosso
conhecimento prévio com a nova informação vinda do texto. As inferências que
são geradas reflectem essa integração de informações e representam aquisição de
conhecimento. Elas são essenciais para a construção do sentido.
Desenvolvimento linguístico
De
modo a relacionar o desenvolvimento linguístico e pensamento, faz-se necessário
abordar o processo evolutivo que este último percorre, bem como suas
especificidades.
De
acordo com Lewis e Wolkmar (1993), Piaget investigou estas habilidades mentais.
O teórico considera que as crianças não herdam capacidades mentais prontas,
apenas o modo de interacção com o ambiente. Desta forma, as actividades
intelectuais visam à adaptação do sujeito ao ambiente, sendo uma construção
gradativa. Os estudos de Jean Piaget
foram fundamentais para a compreensão do desenvolvimento cognitivo. Dady Mussagy
Filgueiras
(2001) afirma que:
...” o trabalho de Piaget constituiu uma base científica
para as pesquisas sobre a aquisição do conhecimento. A teoria do
desenvolvimento cognitivo foi elaborada a partir da Epistemologia Genética,
estudada por Piaget. A Epistemologia Genética procura investigar as origens do
conhecimento desde suas formas mais elementares, de modo a compreender os
diversos níveis das estruturas e processos cognitivos através do Método Clínico
proposto por Piaget”.
A Formação dos Pedagogos e o Ensino da Linguagem
Para
Weisz (2003), muitos professores não têm considerado a alfabetização como um
espaço produção do conhecimento. Acreditam ainda que a criança precisa apenas
codificar a escrita e o significado deve ser deixado para depois. A aquisição
da língua escrita implica desde a sua génese a construção de sentido num
processo de interlocução com o outro.
Alves
(1993), afirma que o aluno erra, o professor dá a resposta tida como certa, faz
com que ele reproduza. O erro não é entendido como um momento do processo de
aprendizagem, como uma hipótese que o aluno lança mão rumo a resolução do
problema, que lhe, foi colocado.
Semântica e pragmática
Semântica
é o estudo do significado, isto é a ciência das significações, com os problemas
suscitados sobre o significado: Tudo tem significado? Significado é imagem
acústica, ou imagem visual? O homem sempre se preocupou com a origem das
línguas e com a relação entre as palavras e as coisas que elas significam, se
há uma ligação natural entre os nomes e as coisas nomeadas ou se essa
associação é mero resultado de convenção. Nesse estudo consideram-se também as
mudanças de sentido, a escolha de novas expressões, o nascimento e morte das
locuções. A semântica como estudo das alterações de significado prende-se a
Michel Bréal e a Gaston Paris. Um tratamento sincrônico descritivo dos fatos da
linguagem e da visão da língua como estrutura e as novas teorias do símbolo
datam do século. XX.
As
formas linguísticas são símbolos e valem pelo que significam. São ruídos
bucais, mas ruídos significantes. É a constante referência mental de uma forma
a determinado significado que a eleva a elemento de uma língua. Não há nenhuma
relação entre o semantema (ou lexema ou morfema lexical – unidade léxica, que
compõe o léxico) cão e um certo animal doméstico a não ser o uso que se faz
desse semantema para referir-se a esse animal. Cada língua “recorta” o mundo objectivo
a seu modo, o que Humboldt chama “visão do mundo”. Registe-se a existência da
linguagem figurada, a metáfora, uso de uma palavra por outra, subjazendo à
segunda a significação da primeira. Há que se levar em conta a denotação
(significado mais restrito) e a conotação (halo de emoção envolvendo o
semantema – casa / lar).
O
estudo dos semantemas é difícil, pois são em número infinito e sua significação
fluída, sujeita às variações sincrónica, sintópica etc. A polissemia faz da
significação dos semantemas um conglomerado de elementos e não um elemento
único: ele anda a passos largos / anda de carro / anda doente. Quanto à
significação interna dos morfemas, (ou gramema ou morfema gramatical) ela se
distribui nas categorias gramaticais que enquadram um dado semantema numa gama
de categoria – género, número etc. – para maior economia da linguagem.
Conclusão
Em
suma ao término deste trabalho, é possível considerar as relações entre
pensamento e linguagem, no entanto para se fazer uso destes itens é necessário
que a criança desenvolva uma capacidade cognitiva. Tal afirmação justifica-se
pelo fato da linguagem estar relacionada aos progressos da inteligência
sensório-motora e ao aparecimento do simbolismo. Ainda que a linguagem seja
considerada um reflexo do pensamento, não se pode ignorar seu papel como
favorecedora da abstracção. Quanto maior a quantidade de generalizações, maior
mobilidade no sistema de esquemas, o que permite melhores condições de interacção
com a realidade.
As
alterações de ordem semântico-pragmáticas estão associadas à rigidez dos
pensamentos e pouca flexibilidade no raciocínio, à dificuldade em atribuir
sentido além do literal, associar palavras ao seu significado e compreender a
linguagem falada. Desta forma, a aprendizagem não é generalizada e acaba
comprometida.
Referências bibliográficas
ACOSTA, Victor
M. (org) Avaliação da linguagem: teoria e
prática do processo de avaliação do comportamento lingüístico infantil. São
Paulo: Editora Santos. 2003.
BEFI-LOPES, Teste de linguagem: nas áreas de fonologia,
vocabulário, fluência e pragmática. 2ª ed. rev. ampl. e atual. Barueri, SP:
Pró-Fono, 2004.
VYGOTSKY, Lev
Semenovich. Pensamento e linguagem.
Tradução: Jéferson Luiz Camargo. São Paulo: Martins Fontes. 1996.
VYGOTSKY, Lev
Semenovich. A formação social da mente: o
desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. Tradução: José
Cipolla Neto, Luís Silveira Menna Barreto, Solange Castro Afeche. 6ª ed. São
Paulo: Martins Fontes, 1998
LURIA,
Alexandr Romanovich. Pensamento e
linguagem: as últimas conferências de Luria. Tradução: Diana M.
Lichtenstein e Mário Corso. Porto Alegre: Artes Médicas, 1986.
JAKUBOVICZ,
Regina. Afasia Infantil. Rio de
Janeiro: Revinter, 1997.
SMITH, Frank. Compreendendo a leitura: uma análise
psicolingüística da leitura e do aprender a ler. Tradução: Daise Batista.
Porto Alegre: Artes Médicas, 1989.
LEWIS, Melvin;
WOLKMAR, Fred R. Aspectos Clínicos do
Desenvolvimento na Infância e Adolescência. 3. ed. São Paulo: Editora Artes
Médicas, 1993.
FILGUEIRAS,
Karina Fideles. Psicopedagogia On-line,
2001. Um estudo sobre a lateralidade como fator influente na alfabetização.
Disponível em: . Acesso em: 14 abril. 2016.
0 Comentários